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quinta-feira, 7 de abril de 2011

A vida como ela não podia ser...

  Mal inicia o quarto mês do ano e fica a impressão de que 2011 será um ano anormalmente trágico. Enchentes fora do comum por todo o mundo (Austrália, Paquistão, Brasil, China, Índia...); invernos  rigorosos nos EUA e Europa; terremotos devastadores (Chile, Nova Zelândia, Japão); revoluções por todo o mundo árabe custando a vida de milhares de pessoas (Tunísia, Egito, Iêmen, Jordânia, Bahrein, Irã, Líbia...). Parece realmente o começo do fim. Do nosso fim. E isso num momento em que a humanidade ainda está calejada das tentativas ainda frustradas de se recuperar da imensa, revoltante e estúpida crise em 2008. De todas as catástrofes que já aconteceram nesse ano, uma em particular foi a que mais me causou aflição: o terremoto no Japão. Mais precisamente uma consequência do terremoto: o desastre nuclear em Fukushima.

  Na última segunda-feira, lendo a notícia de que os técnicos da usina, que tentam há quase um mês conter o vazamento nuclear, decidiram despejar mais de 11.500 toneladas de água radioativa no mar, me veio à cabeça o pior desastre nuclear da história, em Chernobyl. Me dei conta de que nunca tinha parado para olhar de perto aquele acidente, de que nunca tinha procurado me informar exatamente quais foram suas consequências. Pesquisando, achei um documentário da discovery no youtube e fui assistir.  Confesso que pouca coisa me chocou mais que esse documentário em toda a minha vida!

  Pelos dados oficiais (muito questionados, já que a União Soviética tentou a todo custo mascarar o tamanho da catástrofe), 4.000 pessoas morreram de imediato em consequência do acidente. No entanto, pelo menos 600.000 pessoas tiveram contato direto com a radiação liberada: pelo menos 200.000 “liquidadores”, que foram os responsáveis por limpar a região do acidente depois que o vazamento foi controlado; 120.000 pessoas que moravam nas proximidades da usina e que só foram retiradas do local mais de 36 horas depois do acidente; e outros 270.000 residentes das zonas mais contaminadas. No entanto, a nuvem radioativa que saiu do reator chegou a cobrir mais da metade da Europa nos primeiros dias. Tanto que os primeiros a alertar o mundo que tinha acontecido um sério acidente nuclear, dois dias depois do desastre, nem foram os Soviéticos, mas os Suecos, que detectaram um aumento repentino de radiação perto de uma das usinas nucleares do país. Aumento esse tão grande que chegaram a pensar que o acidente tinha sido em suas usinas, e não a milhares de quilômetros dali, em Chernobyl. Pelo tamanho da área atingida, direta ou indiretamente (a radiação chegava à Europa, por exemplo, através das nuvens, e caía junto com a chuva), e pela quantidade de pessoas afetadas, é praticamente impossível estimar quais mortes (geralmente por câncer) foram consequência do acidente, e quais não foram. Mas, apenas para se ter uma noção, das 48.000 pessoas que moravam em Pripyat, a apenas 3 km da usina, pelo menos 15.000 morreram nos 6 meses seguintes ao acidente.

  O acidente de Chernobyl produziu centenas de vezes mais radioatividade que a bomba de Hiroshima, e a área próxima à usina, que inclui a cidade de Pripyat, será por pelo menos 20.000 anos uma região fantasma; um lugar onde não pode existir nenhuma espécie de vida. 20.000 anos! A título de comparação, estima-se que o homem existe há apenas 40.000 anos. Não é aterrorizante? Mas, o mais aterrorizante é a quantidade de usinas nucleares que ainda existem no mundo: 438. E mais 50 estão sendo construídas nesse momento. Lugares que, seja por um desastre ambiental (como o terremoto no Japão), seja por um simples erro humano (como em Chernobyl ou em Three Miles Island, nos EUA, onde aconteceu o terceiro maior desastre nuclear da história), tem o potencial de dizimar toda a vida ao seu redor. Por mais enchentes, terremotos ou nevascas que possam acontecer, sempre me fica a sensação de que o homem será extinto por sua mania de grandeza e por seus próprios atos irresponsáveis. 

Mapa da Localização das Usinas Nucleares do Mundo

Primeira parte do Documentário sobre o desastre de Chernobyl

Clique aqui para abrir o google maps com o sarcófago do reator que explodiu no desastre de Chernobyl, ao centro. O Sarcófago é como chamam a estrutura gigantesca de chumbo e concreto que foi construído em cima do reator para absorver a radiação que ainda emana dele. Se passear pelo mapa, poderá encontrar Pripyat ao sul e poderá ver como não existe nenhuma pessoa ou vestígio de civilização em um raio de muitos e muitos quilômetros ao redor da usina.

4 comentários:

Marcos L. S Costa disse...

Salve, mister Magão. Puxa quanta informação levantada nesse post. Muito interessante e confesso que não me abalei tanto com as catastrofes desse ano, mas me lembrou o presságio do calendário Maia. Bem, mas supertições a parte, o que percebo é que inegávelmente estamos caminhando para o suicidio em massa. A exploração dos recursos naturais, as buscas das novas formas de energias e a busca do crescimento econômico a qualquer custo é o que mobiliza a darmos o tiro na nossa própria cabeça. Ironicamente, enquanto lia seu post, me veio a imagem do Homer, dos Simpsons, comendo rosquinhas e controlando a câmera de resfriamento do reator da Usina do senhor Burns. É cômico agora, mas pode ser trágico no final.

Leonardo Piedade disse...

Magão, após a Tsunami atingir o Japão no mês passado eu conheci uma japonesa em que os pais estavam sem luz elétrica em casa em conseqüência do desastre, apenas nesse momento eu notei como nós não damos o devido valor a coisas que ocorrem fora de nossas "vilas", mas como você comentou, no final todos somos afetados. Foi um pena a gente não ter se visto no carnaval. Um grande abraço.

Evandro Duarte disse...

É Magão, eu já tinha consciência de como a energia nuclear é perigosa. Já vi muitos documentários sobre os desastres. Mas infelizmente, para alguns países é a única maneira de ter o conforto da modernidade, o que é direito deles. O único problema é que em nossas cabeças a ameaça de um acidente nuclear é em um país, quando na verdade os acidentes são globais. Mas como ainda não nos tornamos uma civilização global no sentido real do termo, cada um dos paises devem se virar pra arrumar os recursos para viver, mas em alguns casos, todos podem pagar o preço.

Evandro Duarte disse...

É Magão, eu já tinha consciência de como a energia nuclear é perigosa. Já vi muitos documentários sobre os desastres. Mas infelizmente, para alguns países é a única maneira de ter o conforto da modernidade, o que é direito deles. O único problema é que em nossas cabeças a ameaça de um acidente nuclear é em um país, quando na verdade os acidentes são globais. Mas como ainda não nos tornamos uma civilização global no sentido real do termo, cada um dos paises devem se virar pra arrumar os recursos para viver, mas em alguns casos, todos podem pagar o preço.