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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Desafio ao Gabriel – Colhendo os Frutos

Último feriadão (12 – 15 de novembro) fomos a família toda para a casa dos meus pais (em Paracatu). Poxa, quanto tempo isso não acontecia... Meus pais buscaram o Gabrielzinho em Carmo do Paranaíba, eu fui de Brasília, e meu irmão, Diogo, e a namorada, Juliana, foram de Uberlândia. É, família toda espalhada é difícil reunir. Fui o último a chegar, sexta-feira mesmo, quase meia noite. Mas, antes de tudo, uma pequena recapitulação de como andou o desafio de leitura que fiz ao meu sobrinho (veja aqui, e aqui) desde a entrevista que publiquei aqui no blog no dia 24 de agosto:

- O objetivo era, no final de setembro, fazer uma segunda entrevista com o Gabriel sobre a segunda parte do primeiro livro (O Livro das Virtudes para Crianças, Organizado por William J. Bennett), mas infelizmente a correria e os obstáculos da vida não me permitiram viajar nestes últimos meses. Primeiro foi o curso de preparação de voluntários do CVV que comecei a fazer em agosto todos os sábados (e que não terminei, infelizmente). Depois foi o mês de setembro, que com trabalho em alguns finais de semana e o casamento de um amigo em Uberlândia (pra mim, a quarta etapa da vida: infância, adolescência, faculdade, e quando os amigos da faculdade começam a se casar. Hehe. A saber, a próxima são os filhos de todos começando a pipocar por aí!) atrapalhando as viagens para Paracatu ou Carmo nos finais de semana. Depois, veio outubro... Os dois outubros que passei em Brasília, 2009 e 2010, foram meses de histórias inacreditáveis de encontros e desencontros que merecem ser contadas, mas não agora. Enfim, não encontrei pessoalmente com Gabriel, e acabei não fazendo a entrevista!
 

- Gabriel, então, começou a ler o segundo livro, que já tinha deixado com ele: “Zezinho o Dono da Porquinha Preta” - de Jair Vitória. Um livro ótimo, que se passa em uma área rural à beira do Rio Paranaíba. Achei que o lugar onde a história acontece poderia despertar alguma curiosidade no Gabriel, já que o Rio Paranaíba nasce em cidade homônima bem pertinho de Carmo do Paranaíba. Mas o tiro saiu pela culatra: Gabriel não suportou ler o livro. Imagino porque: saiu de um com várias histórias (onde ele podia ler uma inteira de uma só vez), com letras grandes, muitas gravuras, para outro, que conta uma história só, com letras menores e poucas ilustrações. Por mais que a história do livro seja emocionante e bem contada, talvez tenha sido uma mudança brusca demais. Enfim, fiquei sabendo por minha mãe que ele queria trocar de livro, e para não criar o desgosto nele de ler forçadamente o que não desejava, aceitei a troca dos livros...
 

- E acabei escolhendo outro no mesmo formato que o primeiro, recontando algumas lendas da mitologia grega: “Mitos Gregos” - Eric A. Kimmel. E esse dava até vontade de ficar com ele só para apreciar as gravuras. Lindas, muito coloridas e com um estilo marcante, elas compensavam o texto que, de tão simplificado para o público infantil, dava a sensação em alguns momentos de que alguma coisa deixara de ser contada. Mas, no final, era um bom livro, e minha mãe tinha deixado a dica que ele se interessava por mitologia. Não tinha como dar errado. Para os curiosos, eis os contos presentes no livro:

prometeu e epimeteu
a caixa de pandora
pigmalião e galatéia
eco e narciso
rei midas e o toque de ouro
aracne
perséfone e hades
orfeu e eurídice
jasão e o velocino de ouro
dédalo e ícaro
teseu e o minotauro
perseu e a medusa
odisseu
 

Enfim, os nomes podem não ser exatamente estes, mas está aí tudo o que pude lembrar (não anotei quais lendas tinham antes de entregar o livro para o Gabriel, e acabei não achando na internet). Pois bem, assim que recebeu o livro, deu para ver no rosto dele a curiosidade. Foi logo folheando e relembrando o nome das imagens que já conhecia. Achei ótimo! Mas a surpresa mesmo veio depois: enquanto todos estávamos conversando, depois de uma leitura hilária de uma versão da história dos três porquinhos que meu irmão fez, com vozes diferenciadas para cada porquinho e tudo, Gabriel começou uma leitura de um outro livrinho, e a evolução dele de junho para cá foi realmente impressionante! Está com uma leitura muito mais fluente, respeitando pausas e pontuação, e até colocando entonações diante do contexto das falas, imagino que tentando imitar um pouco o que o pai acabara de fazer com a história dos três porquinhos. Depois disso, nem quis mais fazer a entrevista sobre a segunda metade do primeiro livro! Ele não teria melhorado tanto se não estivesse lendo com certa frequência. Na verdade, pra mim ele já ganhou o Nintendo DS só por essa leitura. Mas, como ele não precisa ficar sabendo disso, deixemos ele terminar o livro sobre mitologia e vamos ver o que ele acabará absorvendo dele.

A única pergunta que fiz para ele sobre o primeiro livro foi de qual conto tinha gostado mais na metade final do livro. Na primeira metade, como vocês bem devem lembrar na entrevista, o conto que mais agradou ele foi uma história cheia de fantasia e de seres encantados sobre uma menina que resolve pegar uma estrela, e sai perguntando no mundo o que fazer para conseguir chegar até ela. Particularmente, eu prefiro a história do caçador e do gavião: um caçador, voltando da caça, resolve parar em uma fonte para tomar água. Como a fonte está escorrendo muito devagar, ele demora para conseguir encher o copo. Quando vai beber, seu gavião (ave que é sua companheira de caça há muitos anos), em um rasante, derruba o copo e toda a água no chão. Faz isso por duas vezes, e quando vai derrubar o copo pela terceira vez, o caçador o mata com um golpe de espada. Impaciente, ele resolve subir a fonte para pegar água no topo, e descobre uma cobra morta dentro da água da fonte, cujo veneno o mataria se ele bebesse da água.


Enfim, diante da pergunta de qual conto ele tinha gostado mais na segunda metade do livro, Gabriel diz exatamente o mesmo conto que mais me encantou, o do sapo e da cobra (tá, tá, eu sei que contar essas histórias assim, sem nenhum floreio, tira um pouco do charme. Mas falta um pouco de paciência para enfeitar as histórias. Então, vão assim, nuas mesmo): um sapinho e uma cobrinha se encontraram certo dia no meio da floresta. Conversaram, brincaram, e acabaram virando amigos ao final do dia. Quando voltaram para casa, contaram para seus pais dos amigos que tinham feito. A mãe da cobra disse então: não, meu filho! Você não pode ser amigo do sapo. Da próxima vez que o encontrar, você tem é que comer ele. A mãe do sapinho, por sua vez, disse ao filho: meu filho, cobras são perigosas. Não se pode confiar nelas. Da próxima vez que encontrar com a cobra, não pense duas vezes: saia correndo. Deste dia em diante, o sapinho e a cobrinha nunca mais brincaram. Mas sempre lembraram com carinho do dia em que se divertiram e foram felizes juntos.

Será que o fato do Gabriel ter gostado desses dois contos em particular pode dizer alguma coisa da vida dele? Pensei um bocado nisso, mas tudo o que disser não passará de mera suposição. Então deixo a pergunta no ar para algum leitor atento que possa querer tentar responder...

Um comentário:

Marcos L. S Costa disse...

O texto é muito interessante. E revela o quanto particular é a descoberta do prazer da leitura. Eu como professor de língua portuguesa, encontro muita dificuldade para incentivar um aluno a ler algo com prazer. E sua metodologia e bem interessante e amigável. Quanto ao que pode revelar o gosto particular de certos contos ou tipologias de textos, acredito que seja mais predileção a revelação de psiquê. Mas vai saber...