Pesquisar este blog

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Homem: inteligente e senhor de si! Aham....

Você já parou pra pensar se tem controle ou não sobre sua opinião? Se consegue realmente ser imparcial e completamente racional ao tomar uma decisão importante? Se é uma pessoa realmente despida de qualquer preconceito e que sempre julga uma pessoa independente das características físicas dela?

Ultimamente li uma série de dados interessantes que, de certa forma, me levam a pensar que ninguém (ou pelo menos uma parte estatisticamente irrelevante das pessoas) consegue ser imparcial quando deveria. Um estudo feito na Universidade de Cornell, em Nova Iorque, mostrou que, em um julgamento, quando o réu é pouco atraente, ele tem 22% mais chance de ser condenado do que réus bonitos. E, além disso, quando é condenado tem uma sentença de, em média, 22 meses a mais na prisão. Ou seja, a pesquisa mostra que nós não só julgamos os outros pela aparência, como também queremos que eles sofram mais quando não nos agradam esteticamente. Agora, que ligação racional pode haver entre ser feio e ser mau (ou criminoso)? Sinceramente, não consigo pensar em nada... Aliás, esse blog ciência maluca, no site da super, sempre me surpreende com dados de todo tipo de pesquisa, de coisas muito bizarras (você sabia que galinhas também preferem pessoas bonitas, ou que morcegos fazem sexo oral?) a coisas absolutamente inúteis e absurdas (como a influência das suas iniciais no ano da sua morte). Aposto que Tarantino deve ler diariamente algum site semelhante lá nos EUA!

Voltando ao assunto, outro estudo (que infelizmente não achei a fonte, mas li na reportagem “Como pensam os bebês”, da edição 281 de agosto de 2010 da superinteressante) mostra que os bebês tendem a não aceitar aqueles que são diferentes. O teste feito foi bem simples: vestiram um grupo de crianças com camisetas amarelas e outro grupo com camisetas azuis. Se uma criança de amarelo é colocada no meio das de azul, ela se torna mais inquieta, dispersa e desconfiada. Além disso, outros estudos mostram que bebês preferem rostos da raça que lhes é mais familiar, ou pessoas que comem o mesmo que sua família come ou falam a mesma língua. Bom, bebês ainda não absorveram vícios culturais, então suspeita-se que o preconceito tenha raízes mais profundas do que imaginamos. Num primeiro impulso, quando li a reportagem, pensei: ora, isso pode ter ajudado as pessoas durante a evolução na medida em que crianças que viam pessoas diferentes com desconfiança tinham menos chance de se meterem com pessoas de tribos rivais e, conseqüentemente, tiveram mais chance de sobreviver. Mas acreditar nisso traz junto a sensação de que o preconceito foi necessário, e que a evolução tratou de deixar essa marca de forma tão profunda nas pessoas que pode ser impossível retirá-la, por mais que se queira. Não é uma sensação muito agradável...

Por fim, a área onde creio termos o menor controle de todas: o amor. E em todas as etapas dele. Veja alguns exemplos que tirei dessa reportagem interessantíssima na super: por mais que você negue, homens dão sim mais valor à beleza e à juventude, e mulheres dão sim mais valor ao nível socioeconômico do parceiro (interesseiras! hehe). E quando você se apaixona, seu cérebro é bombardeado com um neurotransmissor chamado dopamina, que é o mesmo que está envolvido nos casos de dependência química. Ou seja, você vicia, quer sempre mais, sofre crises de abstinência e passa a agir compulsivamente. Literalmente, o cúmulo do descontrole. Mais tarde, quando o casal começa a ter filhos, o homem diminui naturalmente em mais de 30% a quantidade de testosterona no organismo como forma de diminuir a agressividade e fazer com que ele sossegue e ajude a criar melhor o filho. Só que, com o nível de testosterona, cai também a libido. E o casamento pode acabar (se a mulher não puder suportar um marido com menos “poder de fogo”) por um motivo que foi culpa única e exclusivamente da natureza.

Agora, se você acha que pode colocar a culpa de todos os seus problemas de relacionamento na natureza, veja isso: segundo um estudo feito por pesquisadores das universidades de Brown, California e Harvard, uma pessoa pode ficar até 75% mais propensa a terminar o próprio casamento se alguém bem próximo a ela tiver feito isso. E até 33% se for uma pessoa com um relacionamento de segundo grau, como o amigo de um amigo.  É seu relacionamento, que você achava que era uma coisa pacata e simples, sofrendo influência de todos os lados!

 E agora? O que você acha do seu poder de controlar a própria vida? Não parece ser tão grande assim, não é? São influências dos hormônios, do seu círculo de amizade, da cultura predominante do meio onde vive, de traços evolutivos que ainda continuam em você, e de uma infinidade de outros fatores que nem falamos aqui. No final, parece que não temos é vontade nenhuma. Nossa vida parece tão automática como a de qualquer outro animal, com a suposta vantagem de podermos pensar sobre ela. Vantagem que parece não ser assim tão grande, já que nenhum outro animal destrói o ambiente em que vive, correndo o risco de deixá-lo quase inabitável em algumas poucas centenas de anos, sendo que jacarés, por exemplo, existem há milhões de anos e nunca causaram tanto impacto no seu habitat. É, somos realmente muito espertos...

2 comentários:

Leonardo Piedade disse...

Magão, penso que realmente as nossas percepções (experiências, preconceitos, ensino, personalidade) da mesma forma que nos ajuda, também deixa nossa visão turva sobre as coisas. Acredito que a influência dessas percepções varia por aspecto da vida (trabalho, familia, relacionamento, etc..). O importante é o processo de criar a consciência sobre esse tipo de pré-julgamento. Um abraço.

Rüsben disse...

Acho que precisamos tomar partido em várias ocasiões. Talvez imparcialidade demais atrapalhe... creio que a paixão e o afinco presentes em várias coisas que fazemos se deva a isso, e é uma coisa boa, é o que nos motiva. Mas às vezes o que nos move são coisas como o preconceito, como você disse. A emoção faz parte da nossa natureza, não tem jeito.
Rubens
Sobre seu comentário final, eu diria que a capacidade de pensar do homem é uma dádiva, mas ao mesmo tempo, uma cruz.