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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Crianças pequenas e crianças Grandes (1 de 3)

Primeiramente, peço desculpas a vocês pelo imenso intervalo entre a última postagem e esta. Apesar de estar de férias, quase não sobrou o tempo necessário para escrever novamente neste blog. Depois daquele último post, viajei para a casa do meu querido tio Peninha (Vilmar, na verdade, mas já de tanto ninguém o chamar por Vilmar, fica a impressão de que ele já nasceu Peninha), em Tiros-MG. Na volta, fiz uma breve parada em Matutina para um agradável almoço na casa dos meus padrinhos José Roberto e Maria Cleusa e passei em Carmo do Paranaíba para pegar meu sobrinho Gabriel. Depois disso, Gabriel não me deu mais o devido sossego para escrever. O que, vale ressaltar, não é motivo para nenhuma reclamação. Na semana passada, ainda viajamos todos (meu pai, minha mãe, Gabriel e minha avó, Dona Joana) para Buriti Alegre. Em seguida, fomos para Caldas Novas, depois de volta para Buriti, e somente ontem que regressei para Brasília. Podem imaginar como esses dias foram completamente preenchidos, não podem?
Pois bem, entre essas tantas andanças, reencontrei pelo menos duas dúzias de pessoas, algumas que não via há poucos meses, outras que não via há muitos, muitos anos. Não é possível fazer conta, mas imagino que entre 10 a 15 anos! É tempo pra caramba. E este e os próximos dois posts serão dedicados às crianças que encontrei nesses dias. Algumas nem são crianças mais, mas eram da última vez que os vi. Então, de certa forma, continuam sendo pra mim. Espero que apreciem da forma como apreciei. Sempre achei que não existe forma melhor de observar o ser humano em sua essência do que olhando atentamente pra uma criança, pessoinha ainda sem muitas das ideologias que os adultos têm marcadas na alma...

Ryan Carlos

Ryan é uma criança adorável! Filho de tio Peninha e tia Nadil, tem uma energia que parece transbordar de todas as formas possíveis, o que é contagiante. Mas, obviamente, não é fácil administrar tanta energia. Basta imaginar uma criança agitada e ligeiramente ansiosa em uma sala de aula para perceber o que sua professora não deve passar. Fica apenas a esperança de que nem todos os alunos dela sejam assim... De qualquer forma, de forma alguma acho isso um problema. Ryan tem um jeito de pessoa que sempre vai ter um monte de amigos por perto! Afinal, quem não quer se contagiar com tanta vontade de viver?
No mês passado meu tio pediu para que eu comprasse um Nintendo DS para Ryan por ocasião do seu aniversário. Sim, é o mesmo presente que prometi ao meu sobrinho (ver post do dia 14 de julho), o que não passa de coincidência. Não sei se porque antigamente eu carregava o meu para todo lado (e a criançada adorava!), ou se meus tios se empolgaram com o desafio que eu havia proposto ao meu sobrinho. Aconteceu que Ryan queria de aniversário justamente o mesmo brinquedo. E ele também teve que cumprir o seu desafio: Ryan estava sapeca demais na escola, e a professora dele insistia em puni-lo com advertências na tentativa de um convívio social mais harmônico. Minha tia me mostrou algumas fichas com avaliações diárias que ele recebia da professora. Existiam uns 15 tópicos do tipo “relacionamento com os colegas”, “pontualidade”, “tarefas de casa”, etc. E para cada tópico, todo dia, o aluno recebia um visto verde (foi bem na tarefa), amarelo (está desandando) ou vermelho (falhou completamente). Achei uma avaliação um tanto falha, visto que todos os tópicos, de uma forma ou de outra, avaliavam o bom comportamento. Nenhum para valorizar o que o Ryan tinha de melhor: criatividade, alegria, energia! Assim a avaliação dele tinha era um monte de amarelos e de vermelhos. O objetivo era que aquelas fichas tivessem pelo menos 70% de avaliações verdes. Coitado, teve que fazer um esforço danado: ficar quieto nas aulas, não conversar, fazer as tarefas em dia, não brigar com ninguém (o que inclui, por consequência, não revidar a provocação de ninguém). E ele o fez: nos últimos três meses, tinha no máximo 3 ou 4 avaliações amarelas. Nenhuma vermelha. O garoto mudou como que do vinho para a água! Mas até que ponto foi realmente válido? Minha tia contou uma história que me fez duvidar até onde isso foi bom para o garoto: certo dia, um coleguinha estava implicando com outro coleguinha. A implicação acabou virando uma discussão, e Ryan estava próximo. A professora chamou a atenção de todos, e acabou dando um visto vermelho no tópico “relacionamento com os colegas” para os três. Ryan ficou nervoso com a injustiça, e tia Nadil disse que, naquele dia, ele ficou até tarde da noite chorando. Só acalmou quando ela foi na escola falar com a professora, e ela mudou a avaliação de vermelho para verde. Ora, todo mundo tem seus dias bons e seus dias ruins, e faz parte da formação de uma pessoa aprender a lidar com os dias ruins, mesmo que hajam injustiças. Mas Ryan parecia tão concentrado em se limitar para ficar comportado que, frente a uma adversidade, perdeu o controle...
Enfim, sendo bom ou não, o menino fez por merecer o presente, que foi entregue pouco depois que cheguei. E uma coisa curiosa aconteceu nessa hora: quando resolvemos entregar o presente, estavam dois amiguinhos do Ryan com ele, jogando videogame. Era a vez dos dois jogarem, e o Ryan estava esperando sua vez. Ele pegou o Nintendo DS, ficou feliz e sorridente, e voltou pro quarto para exibir o presente para os amigos. Obviamente os dois pararam na hora para ver a novidade, e Ryan fez um comentário ligeiramente cruel: “Não era a vez de vocês jogarem? Então podem voltar pra lá!”. Os meninos ficaram amuados, e pouco depois resolveram ir embora. O que eu achei disso? Como disse no começo, crianças são seres humanos em essência, e querer parecer melhor que os outros é algo instintivo. Não é possível condenar uma criança ainda tão nova por dizer isso. Afinal, ela está sendo espontânea, ainda não sabe controlar esses instintos que, pelo bem da boa convivência, os adultos aprendem a controlar (nem todos, vale ressaltar). Depois que os meninos foram embora, tia Nadil como mãe atenciosa que é chamou a atenção de Ryan para o que tinha feito, e essa simples repreensão me fez ficar pensando: se nossos pais vivem nos repreendendo para que sejamos educados, para que não sejamos egoístas e para que nos comportemos, ou seja, se eles vão nos ensinando a controlar nossos instintos e impulsos, será que não tem limites que eles nos impõem que, no final, não nos faz bem? Por exemplo: será que ficar batendo na nossa cabeça que não se deve falar com estranhos não acaba resultando em um mundo mais frio, em que as pessoas sempre desconfiam umas das outras? Será que ficar falando para um menino agitado ficar quieto sempre não acaba criando um adulto ansioso?
Sempre achei que a parte mais importante do desenvolvimento de uma pessoa é quando ela percebe que é um Ser diferente dos pais e, por isso mesmo, pode ter opiniões diferentes. Aliás, pode não, deve! Nos próximos dois posts falarei de Pablo (primo que não via há mais de 10 anos, e que hoje está com 21 anos) e, claro, do meu sobrinho Gabriel (incluindo a transcrição da entrevista que fiz com ele sobre o desafio da leitura).

4 comentários:

Unknown disse...

valeu magno,continue escrevendo.
Abraço:
Tio Peninha

pepi-breve disse...

Hum, bacana ver como vc expressa bem os seus sentimentos e os acontecimentos. Muito legal o blog. Estou ansioso para os próximos posts.
Um abraço,
Plínio

Unknown disse...

Grande amigo Magno. Espero que em um futuro próximo ou distante eu não esteja em um de seus textos a respeito do tempo que passamos longe e das diferenças entre "àquela época" e o "hoje".
Mas enfim, você fez uma análise fantástica a respeito do comportamento de seu priminho. Muitas vezes passamos a maior parte do tempo tentando protejer nossos "filhos", cujos não os tenho ainda, tentando controlá-los.
Será que temos que controlar todos os instintos das crianças? Ou, será que nós temos que controlar os instintos que as levam para o mal e tudo que for bom deixar aflorar.
Não somos muito egoístas ao deixar que nossa falta de paciência, entre outras coisas, nos influêncie e, por exemplo, mandemos a "mulecada" ficar quieta o tempo inteiro?
Acho que precisamos rever nossos conceitos, deixar de inibir as crianças, passar a avaliar coisas importantes como a criatividade.
Estou convivendo com o outro lado da educação a algum tempo e acho que, não sei como, mas precisamos de mudanças para que nossa capacidade seja otimizada.

Abraços
Zidane

Leonardo Piedade disse...

Magão, tô curtindo os posts da forma que você está escrevendo, cheio de detalhes, algumas partes dá até para visualizar as cenas ... um abraço.